sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Meia Noite em Paris"


AVISO: Presença de Spoiler. Caso você, que está lendo esse humilde post, tenha interesse de assistir o filme "Meia noite em Paris" e ainda não assistiu, cuidado pois escreverei detalhes sobre esse filme.

Bom, para iniciar esse post, preciso antes de mais nada dizer que futuquei a internet toda atrás de uma imagem para pôr aqui e não achei nenhuma que ficasse a altura para representar esse filme, por isso pus uma foto do diretor Woody Allen.

Convivi a vida toda com pessoas que simplesmente veneravam o Woody Allen e eu admito que nunca entendi muito bem essa idolatria. Parte disso por puro pré-conceito da minha parte - sorry! Não sou perfeita - que não ia muito com a cara dele. Apesar da minha "guru", a escritora Martha Medeiros, ser apaixonada pela obra dele.

Enfim, no início dessa semana - por pura obra do destino - fui convidada para assistir esse filme no cinema. A minha primeira reação foi pensar: "Putz, Woody Allen?". Mas, deixe-me levar pelo convite, já que a pessoa que me convidou é muito inteligente e sensível e, portanto, não me levaria para uma "roubada". Além do mais, essa pessoa é muito especial para mim.

Como o próprio título já mostra, a história acontece em Paris. Só por isso já valeria ver o filme. Paris é uma cidade que nenhum adjetivo cabe, a não ser "mágica"... E acho que Woody Allen pensa como eu...

O filme conta a história de um roteirista de Hollywood, Gil, que vai a Paris com sua noiva insuportavelmente chata e lá se encontra com seus futuros sogros (tão chatos quanto a noiva). Em Paris, ele começa a questionar sua vida de roteirista, já que seu sonho era ser um escritor reconhecido. Percebe que sua vida financeira estável, em função de ser roteirista, deu a ele dinheiro, mas também frustração.

Durante o início do filme, ele tenta - de forma delicada - dizer para sua noiva sobre a sua vontade de se mudar para Paris, comprar um apartamento, andar na chuva das ruas parisienses, cita a sua vontade de ter vivido em Paris no início do século passado... Ela, extremamente irritante e egocêntrica, não dá atenção ao que ele diz. Ele, por sua vez, apenas lamenta seus sentimentos, mas mantem-se ali com ela, aturando suas atitudes mimadas. São noivos, mas percebe-se de forma nítida a solidão de Gil.

Em um dado momento do filme, quando Gil resolve caminhar sozinho nas ruas de Paris (e se perde), ele acaba parando num local para pensar numa maneira de voltar ao hotel. Sentado sozinho de madrugada em uma escada, ouve-se ao fundo o badalar de uma igreja, é "Meia noite em Paris"...

Surge um carro antigo na rua, que para à sua frente. De dentro do carro, algumas pessoas o convidam para entrar. Ele, meio atordoado e sem entender o que está acontecendo, resolve entrar (já que sua capacidade de raciocício estava enfraquecida, já que ele havia acabado de sair de uma degustação de vinhos).

Dentro do carro, ele percebe que houve uma "mágica" e que ele entrou em um túnel do tempo e que agora estava em Paris no início do século passado. No carro está o casal F. Scott Fitzgerald (um dos maiores escritores doséculo XX) e Zelda Fitzgerald, que o levam a um encontro com Hemingway.

Gil, nessa viagem no tempo, acaba encontrando com todos os maiores artistas da época: Picasso, Dali, entre outros, todos aqueles que ele tanto admira. O encontro dele com esses artistas faz com que ele lide com seus mais profundos desejos, até então varridos para debaixo do tapete. O diálogo de Gil com Hemingway dentro do carro sobre amor é um dos pontos mais lindos do filme, quando Hemingway descreve para ele o sentimento de estar ao lado da mulher amada e o faz perceber o quanto estava equivocado sobre isso.

O filme é recheado com diálogos lindos e profundos sobre a mente humana. Gil fez uma viagem no tempo, quando, na verdade, toda essa mágica fez com que ele realmente viajasse para as profundezas do seu ser: lidando com seus verdadeiros desejos, começando a admitir o quanto sua vida é medíocre e vazia, o quanto ele está preso a conceitos equivocados.

Não tenho palavras para descrever a maneira como Woody Allen escreveu esses diálogos tão profundos e sensíveis. A cada cena, eu ficava mais apaixonada por tudo o que estava acontecendo, meus olhos não desgrudavam da tela, cada diálogo era profundo e questionador, mas não de uma maneira "pseudo-intelectual", mas sim de forma sensível e encantadora.

Só assistindo o filme para entender a linda mensagem que Woody Allen quis dividir com seus espectadores. São tantos detalhes, é tanta coisa mostrada de forma poética, são tantas cenas intensas e paradoxalmente delicadas, que é preciso estar com o coração aberto para entendê-las e eu entendi. O problema de Gil não é porque ele não viveu na época que ele desejava viver e sim que essa viagem ao tempo mostrou que não é no passado que se encontra as verdades e sim dentro de nós mesmos, reformulando nossas ideias, reconstruindo nossos conceitos no presente

Claro que após essas experiênciastão intensas, Gil não se contenta mais em estar ao lado de uma mulher tão vazia, presa a expectativas de poder e glamour vazios e abre mão dessa relação supérflua para viver NO PRESENTE todas as sensações, sentimentos que ele tem o poder de viver.

Woody Allen não se prendeu a clichês, convidou seus espectadores a viajar junto com Gil nessa viagem interna e avassaladora, que o libertou de amarras emocionais durante tanto tempo.

Sem me avisar previamente, Woody Allen, na última cena do filme me fez chorar... Em muitos outros filmes que assisti, eu já esperava que ia chorar, mas nesse filme fui pega desprevinida e me emocionei de verdade. Enquanto lágrimas caiam dos meus olhos, meus lábios sorriam, tamana a intensidade da última cena do filme.

Cada cena é interligada, cada diálogo existe por um motivo nobre, nada é a toa.

Sem fórmulas prontas de romance, a última cena do filme retrata, de forma magistral, que a verdadeira felicidade não está em desejar viver em outras épocas e sim que ela está ali, a nossa frente, no nosso presente, esperando apenas ser aceita e vivida.

Em um simples momento de chuva, Woody Allen nos soca o estômago com a última cena, não consegui evitar a intensa emoção. Ele nos alfineta o tempo todo com a sutileza dos diálogos inteligentíssimos entre os personagens do filme, nos faz pensar, filosofar. Um filme profundo e, para mim, um divisor de águas na minha vida.

Woody Allen fala das relações humanas de forma tão profunda e, ao mesmo tempo, tão simples que não há possibilidade de você não se encantar. Com certeza esse filme, quando lançado em DVD, fará parte da minha coleção e, caso você tenha visto o filme de maneira despretensiosa, assista-o novamente: perceba cada nuance nos diálogos, perceba a linda edição de cenas que, em muitas vezes, falam mais que palavras.

Falar de relações humanas nunca é fácil, mas Woody Allen consegue e mordi a língua quando percebi o tempo que perdi em não ter dado a ele a chance de me mostrar antes a sua magnífica capacidade de falar de encontros, desencontros, amor, desapego...

Ah... A última cena do filme... O que mais quero é poder andar sob a chuva, sem medo de molhar a roupa, sem medo de borrar maquiagem, sem medo de estragar o penteado... Isso é dar chance ao amor: desprender-se de antigas amarras emocionais e permiti-se viver, sem medo do que vai dar. Não importa se estamos em Paris ou na Venezuela, não importa se iremos nos deparar com uma situação mágica que nos leve a um passado impossível de ser vivido, não importa se haverá um badalar de sinos. Não tenho poder sobre o passado e nem sobre o futuro, mas tenho o poder do AGORA e Woody Allen nos prova isso nesse filme.

Um verdadeiro poema em forma de imagens e diálogos. Um elixir que toca o coração.

Românticos assumidos ou não, assistam, deleitem-se com esse filme. Ele mostra que não é tão difícil dar chance ao amor e viver seus sonhos.

Obrigada Woody!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Solução dos problemas em frasquinhos?

Eu já havia reparado nisso já tem um tempo, mas achei melhor observar mais antes de afirmar. Afinal, eu poderia estar completamente equivocada e, sem perceber, dando rótulos - o que eu abomino. Mas, agora não dá mais para negar...

A medicina mental evoluiu muito nos últimos anos e, com isso, o que antes era considerado quase que um assunto proibido, hoje pode-se debater, ter informações e etc.

Hoje fala-se abertamente sobre depressão, mania, transtornos alimentares (anorexia e bulimia), ansiedade, esquizofrenia e afins. Eu acho isso ótimo, pois sempre me incomodou o fato de que qualquer comentário a respeito disso deixava-se no ar um certo "ranço": era vergonha admitir qualquer um desses problemas, não importando se estava acontecendo com você ou com alguém próximo. Muitos preconceitos eram arraigados demais. Perdi a conta de quantas vezes ouvi pessoas - muitas delas inteligentes, com acesso à informação - afirmarem com categoria, por exemplo, que depressão era fraqueza ou até frescura.

Claro que ainda há certos comentários maldosos a respeito disso, mas diante da enorme evolução na medicina, não há mais como se prender a determinados conceitos arcaicos.

ÓTIMO! Detesto essa mania que a sociedade tem de "varrer para debaixo do tapete" assuntos polêmicos. Vamos sim colocar na roda esses debates, vamos procurar maior entendimento, vamos procurar soluções.

Só que aí a 3ª lei de Newton funciona que é uma maravilha...

A 3ª lei de Newton diz que "toda ação gera uma reação de igual intensidade, mesma direção, mas em sentido contrário". Resumindo: era proibido falar desses assuntos que citei acima (ação), agora é quase moda falar deles (reação).

Virou uma bagunça generalizada e com direito a auto-medicação!

É "cool" afirmar numa rodinha de amigos que você faz análise a alguns anos. É "in" ter um psiquiatra de confiança para indicar. É comum ver pessoas trocando relatos sobre esse ou aquele medicamento. Pára o mundo que eu quero descer!

Todos esses problemas são sérios e DEVEM ser levados à sério. O que vejo acontecer atualmente é algo muito irritante. Fala-se disso tudo com leviandade. A coisa não é bem assim.

"Estou me sentindo tão triste hoje...". No problem! Taca um remedinho goela abaixo que resolve. "Não consigo dormir...". Tá resolvido! Minha amiga tem um remédio que é tiro e queda!

Como assim, cara pálida?

Problemas todos nós temos! Todo mundo se sente angustiado, ansioso, nervoso, triste, estressado... Quando isso vira rotina, aí sim deve-se procurar ajuda de um profissional da área, mas se esses sentimentos forem apenas reações diante de algo paupável, não tem outro jeito: deve-se enfrentar e se permitir sentir. Afinal, temos sangue nas veias e não água boricada.

Tenho a sensação de que muito se trabalha na consequencia, mas pouco na causa. Esses medicamentos, quando não bem empregados, apenas camuflam o real problema, anestesiam! Mas e o que gera rotinamente a tristeza, ansiedade e etc? Finjo que não existe e "fujo" tomando remédio?

Que fique claro que não estou aqui fazendo apologia contra medicamentos. Tenho plena convicção de que toda doença deve ser tratada com todos os instrumentos disponíveis. O que estou questionando é a maneira rasa como isso está sendo tratado na sociedade. Fico com a sensação de que é quase "legal" ter depressão, por exemplo.

Li uma vez em algum lugar - não sei precisar onde - uma frase bem interessante: "É muito difícil encontrar a felicidade dentro de nós mesmos, mas é impossível encontrá-la fora.". Perfect! É isso aí! Com tantos problemas e cobranças atuais é difícil demais achar a felicidade dentro da gente, mas vamos combinar que realmente é impossível achá-la fora, principalmente em um frasquinho de remédio.

Pare para fazer uma auto-análise: sua tristeza é companheira certa no seu dia a dia? Procure ajuda! Você fica profundamente irritado com qualquer coisa banal? Não se martireze, procure ajuda! Você está diariamente com dificuldade para dormir? Converse com um bom profissional a respeito! Você sente que tem sentimentos mal resolvidos dentro de você? Procure um bom psicólogo para te ajudar a se entender! Isso sim é levar à sério essas questões! Seja através de uma terapia ou quiçá um psiquiatra, tudo isso tem solução. O que não pode acontecer é transformar tudo isso em moda!

Pessoal, fica a dica: remédio tarja-preta não é o novo preto!