quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tudo é uma questão de bom senso!






Sempre apreciei sinceridade e transparência como características latentes em qualquer ser humano. É muito mais fácil lidar, por exemplo, com uma pessoa fofoqueira, interesseira, gananciosa, mas que não esconde isso de ninguém, do que lidar com uma pessoa que mais parece uma linda e leve fada lilás, com uma voz que quase lembra uma sinfonia de Bach, mas que verdadeiramente está esperando uma brechinha qualquer para lhe passar a perna, te difamar e lhe meter uma faca nas costas.

Gosto mesmo de pessoas autênticas, que não se escondem atrás de esteriótipos. Que elas tenham características que vão totalmente contra aos meus conceitos éticos e morais, mas pelo menos estão ali, mostrando o que são, sem dissimulação. Conhecer o "inimigo" é fundamental.

Só que existe um contra-ponto: eu ou você podemos afirmar com toda a certeza do mundo que SEMPRE fomos sinceros e transparentes? Eu me acho uma pessoa sincera sim, mas sem hipocrisia, nem sempre fui sincera em várias ocasiões.

Você tem uma amiga com uma tendência histérica, ela é um amor de pessoa, mas qualquer situação que saia do seu controle vira uma tragédia grega, com direito a prantos intermináveis, consultas extras na terapia, medicamentos tarja-preta e dias enfiada num quarto escuro ouvindo blues. Um belo dia, você está andando no centro da cidade e dá de cara com o noivo dela quase engolindo uma loira de salto agulha, em plena luz do dia. Claro que suas vísceras irão ferver tamanha a revolta, mas se essa sua amiga vier lhe perguntar se você viu seu noivo com alguma mulher você dirá verdade? Será sincera? Pois eu não! E não tenho vergonha de admitir isso. Não contarei não porque sou "em cima do muro", mas sim porque esse tipo de verdade dita só machuca. Um homem que se atraca com uma mulher tendo um compromisso com sua amiga em plena luz do dia, além de canalha, é covarde! Ele quer mesmo é ser visto e que alguém faça o papel que ele não teve culhões para fazer... E, vamos combinar: as chances de você contar o que viu, ele fazer papel de vítima, ele e sua amiga reatarem e você ficar com cara de tacho e ainda ser acusada de intrigueira são enormes.

Você trabalha em um escritório e nele também trabalha um rapaz irritantemente chato. Daqueles que fazem nascer em sua mente as ideias mais cruéis de tortura medieval. Vive fazendo piadinhas sem graça, implica, coloca apelidos, se mete nas conversas. Aquele tipo de pessoa que é capaz de tirar do sério até um monge budista, que acorda já na intenção de pertubar a vida de alguém. Você será transparente e fará cara feia cada vez que ele se aproximar fazendo algo insuportável? Você dirá diretamente para ele o quanto incomoda com suas atitudes? Eu não! É exatamente isso que ele quer! Quer azucrinar. Se eu fizer cara feia ou tecer algum comentário, estarei dando a ele o troféu que ele tenta ganhar todo dia. Visto sem pudores minha "máscara de samambaia" e olho para ele como se estivesse olhando um poste, por mais que por dentro eu quisesse estrangulá-lo.

Você tem um namorado que você ama e que te ama também: inteligente, lindo, culto, charmoso, carinhoso, mas como não existem "pacotes perfeitos", ele, em algumas situações, é severo em demasia, se irrita por pouca coisa e acha que está sempre com a razão. Começa uma discussão entre vocês e ele começa a esbravejar um monte de impropérios desnecessários, grita, anda de um lado para o outro e pode até te acusar de coisa que você não fez. Você será sincera e dirá que ele parece um ogro, que não tem mais idade para agir como uma criança birrenta? Eu não! Fico quieta! Em outra ocasião, com muita delicadeza, falarei sobre isso para que não pareça cobrança e nem crítica velada.  

Tudo é uma questão de bom senso.

Eu gosto da verdade, sempre gostei, mas o bom senso me mostra a cada dia que ela tem que servir como instrumento para agregar, para somar, para evoluir e não como uma espada enfiada na barriga de alguém.

Vejo muita gente por aí levantando bandeiras de "sinceridade" e "transparência", mas deixando no seu caminho inimizades, mal estar, clima pesado.

Não é todo mundo que está pronto para ouvir uma verdade e mesmo que essa pessoa aguente o tranco de ouvir uma, cabe ao nosso bom senso sabe detectar o momento de dizê-la e como dizê-la. Qualquer coisa diferente disso não é ser sincera e sim cruel.

Minha transparência, por exemplo, não é exercitada olhando de rabo de olho para uma pessoa insuportável cada vez que ela passa. Minha transparência é mostrada simplesmente evitando ao máximo conversar com essa pessoa e sendo apenas educada. Combinação perfeita: transparência + bom senso.

O que realmente importa nessa vida é que sejamos sinceros e transparentes com nós mesmos. 

Se o pessoal da empresa marca de tomar um chopp que você não está com o menor saco de ir, não vá. Seja educada, diga que lamenta e que está com dor de cabeça. Se uma amiga liga às 2h da manhã para chorar pitangas porque seu corte de cabelo ficou horrível e você tem uma reunião marcada às 7h, educadamente deixe claro que você não está disponível naquele momento... Isso é ser sincera consigo mesma, sem precisar dizer a verdade nua e crua.

Tudo é uma questão de bom senso.

Na vida, usamos máscaras sim. Usamos para nos proteger, usamos para não nos expôr, usamos para evitar brigas homéricas, usamos para conviver com pessoas chatas, mas que temos que conviver, usamos para não machucar quem a gente gosta, usamos para não alimentar a energia de "vampiros emocionais", mas tudo com bom senso.

A linha que separa o bom senso de falsidade e dissimulação é tênue. Não usa-se máscaras para tentar convencer os outros de algo que você não é. É apenas um instinto de sobrevivência, já que vivemos e PRECISAMOS conviver em sociedade.

A chamada para o seriado "Arquivo X" dizia: "A verdade está lá fora!".

Ótimo slogan publicitário, mas a verdade está dentro e, em muitos casos, é onde tem que ficar. Basta usar o bom senso.

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