quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Grito - Martha Medeiros


Ganhei de presente (e que presente!) o livro "Montanha Russa" da escritora e minha guru Martha Medeiros.

Por incrível que possa parecer, eu ainda não o tinha e quando eu o peguei em mãos o devorei sem dó e nem piedade.

É uma coletânea de crônicas dela que o leitor quando começa a ler, não consegue mais parar. É impossível passar inerte depois de ler algo escrito por Martha Medeiros.

Eu, sinceramente, acho que ela tem algo de mágico que liga sua mente às suas mãos na hora de escrever. Sua maneira de descrever, de forma tão esplêndida e profunda, o cotidiano, merece reverências.

Enfim, de todas as crônicas desse livro, escolhi uma para transcrever aqui nesse meu singelo blog.

Não tenho uma vírgula para acrescentar sobre essa crônica: "O Grito".

Apenas um alerta: preparem seus estômagos, porque Martha Medeiros irá socá-los...

O Grito 
Martha Medeiros
Livro "Montanha Russa"

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.

Não sei se gosto da minha namorada, diz um amigo para o outro.
Ele sabe.

Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.

Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade impõe-se, fala mais alto que nós, ela grita.

Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, que nos confude, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno.

A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.

Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Podemos amar e se relacionar com alguém sabendo que essa pessoa só está passando um tempo com você. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro.

Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!

Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.

Eu não sei por que sou assim.
Sabe.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Zoo e a Zona


Durante toda a minha infância (e isso já faz um tempo, digamos, considerável), meus pais me levavam quase que sempre à Quinta da Boa Vista, aqui no Rio de Janeiro.
Lembro-me como se fosse hoje a minha IMENSA alegria de ir passear lá. A Quinta da Boa Vista sempre foi um lugar mágico: imensos gramados verdes para correr (sendo alguns com inclinação suficiente para, inclusive, brincar de escorrega), pracinha com vários brinquedos, lagoa com uma pequena ilha que se chegava através de uma ponte, pequenas cavernas para brincar, museu, lugar para andar de bicicleta...

Nos finais de semana então era uma MARAVILHA: porque muitas pessoas levavam grandes pula-pulas e  charretezinhas para alugarem. Sem falar dos vendedores das mais diversas bugingangas coloridas que deixavam as crianças eufóricas e os pais com vontade de pedir falência.

A Quinta da Boa Vista é um lugar ENORME e é comum que as famílias passem o dia todo lá. Alguns com toalhas estendidas no gramado fazendo pequenique e outras fazendo aqueles lanchinhos nem um pouco saudáveis, mas que alimentam a alma.

A Quinta da Boa Vista cheira à pipoca, milho verde cozido, cachorro-quente, maçã do amor, algodão doce... Exala aquele cheiro delicioso de planta, com árvores lindíssimas. Ouve-se risadas deliciosas de crianças. Você olha em volta e vê natureza, casais de namorados trocando beijinhos deitados na grama, jovens sentados lendo livros... Nesse caso vou ser bairrista sem medo de errar: preferia mil vezes ficar com o rosto azul de tanto comer algodão doce, subir em árvore, correr até parar de sentir as pernas, do que ir à Disney. (mas logo aviso: essa é minha opinião apenas). É um lugar lúdico...

Mas, apesar de toda essa minha descrição acima sobre a Quinta da Boa Vista, tem um lugar lá que, para mim, é o verdadeiro paraíso: o Zoológico da Quinta da Boa Vista!

Ok! Tudo o que citei acima eu amava fazer, mas nada me dava mais prazer do que ir ao zoológico.

Sempre fui apaixonada por animais e ir ao zoo é um prazer indescritível!

Que gostoso era ver as lindas araras voando nas gaiolas. Que fascínio me causava ver o jacaré completamente estático, as tartaruguinhas nadando, os macacos ágeis pulando e interagindo com os visitantes, torcer para o hipopótamo sair de dentro da água. Contemplar a pose majestosa das aves de rapina. Ouvir maravilhada o rugido do tigre. Ficar impressionada com o tamanho da girafa.

Só que...

Nesse último sábado, depois de muito tempo, fui ao zoológico (que saco essa mania humana de se tornar adulto e não alimentar a criança dentro de si) e me deparei com uma cena que não há adjetivo para descrevê-la...

Dizer que é triste é pouco! Dizer que é lamentável é pouco! Acho que o adjetivo que mais se aproxima do que senti ao entrar no zoológico é REVOLTA.

O zoológico estava cheio, claro. Afinal, estava um lindo dia de céu azul no Rio de Janeiro e a temperatura estava agradabilíssima, mas apesar de todo esse contexto, eu olhava em volta e sentia no peito uma grande tristeza.

O zoológico da Quinta da Boa Vista está acabado. Em todas as jaulas onde contém algum tanque de água, em função da necessidade do animal, não tem água e sim LIMO. Limo grosso, daqueles que dá a impressão que dá para andar em cima. Em toda a caminhada que dei não vi, em momento algum, nenhum funcionário prestes a dar informação, orientar os visitantes a não irritar ou dar comidas aos animais. Não vi sequer UM segurança. A grande maioria dos animais estão apáticos. Têm jaulas sem animais e apenas com mato que chega a quase 2 metros de altura. Em outras jaulas, os animais dividem sua moradia com lixo ou também plantas que não são podadas, a pelo menos, 6 meses.

A cena mais chocante para mim foi quando cheguei na jaula do hipopótamo. Ela é dividida em duas partes e em cada parte havia 1 hipopótamo. Vi que um deles estava deitado, enquanto o outro ficava o cheirando através da grade. Até aí nada demais, certo? Pois é, quando olhei o muro que divide as duas jaulas, eu simplesmente contei 23 urubus posados. Vem cá... Eu não sou veterinária, mas até onde eu sei o urubu fica na espreita esperando algum animal morrer para poder se alimentar. Pergunta se em algum momento eu vi algum veterinário dando uma ronda para verificar o bem estar dos animais...

Ao sair pelo portão principal, fui até à ponte construída para que os visitantes possam ver alguns animais de cima... Sabe o que eu vi nesse terreno enorme? Uma capivara e três veados. O resto era tudo LAMA... Lama úmida, que chegava a dar nojo, asco...

Saí de lá arrasada... Sei que o ser humano tem uma GRANDE tendência em não respeitar a natureza como um todo - vide a maneira como a natureza está reagindo diante desse "estupro" - mas sempre optei em acreditar que as pessoas um dia iriam se dar conta de que nós, seres humanos, somos APENAS UM dos elementos que compõe a natureza e não somos donos dele.

Juro que, por mais que eu tente, não consigo entender esses descomprometimento, tanto das autoridades, quanto da população...

Triste, revoltada e desolada com o que vi, apenas duas perguntas martelam a minha cabeça:

1 - "Para onde vai o dinheiro dos impostos que eu pago? Assim como tantos outros milhões?"

2 - "Será que são aqueles animais que devem ficar enjaulados?"

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A difícil arte de se comunicar





Milhões e milhões de anos se passaram e o ser humano conseguiu criar uma complexa maneira de se comunicar. Enquanto os animais apenas entoam sons (que os cientistas já conseguiram descobrir que é uma maneira de se comunicar), nós seres humanos temos um vasto vocabulário que se adapta a qualquer tipo de situação.

Além das palavras, existem outras maneiras de se comunicar: através do olhar, gesto, movimento corporal... Enfim, comunicar-se é um campo rico e maravilhoso, BUT...

Por que é tão difícil se comunicar?

Pergunto isso porque me considero - sem auto-promoção - uma pessoa com uma excelente capacidade de me expressar, não tanto na escrita, admito, mas na fala sei que consigo dilacerar bem qualquer assunto. Integro-me em qualquer tipo de grupo social e sei me adaptar para entender e ser entendida e acho que não faço mais do que minha obrigação, afinal de contas, meus ancentrais não lutaram para criar esse lindo e majestoso ato de se comunicar.

Só que tem um grande problema: ok! Existem inúmeras pessoas que se expressam muito bem, mas em contrapartida não entendem ABSOLUTAMENTE NADA do que o outro está dizendo.

Quantas vezes na sua vida você já não se deparou com uma situação em que você teve CERTEZA de ter dito algo de forma clara e direta e o ouvinte, além de não ter entendido o que você falou, colocou palavras na sua boca que não foram ditas, distorce o que foi falado e ainda sai por aí pulando feito uma gazela arrotando verdades que, em momento algum, foram ditas.

Fofoca então é uma maravilha, um verdadeiro "telefone sem fio". A brincadeira começa com a pessoa falando a palavra "calçada", a outra passa a palavra "cantada", a outra passa "cartada", a outra "galopada" e assim vai até a última pessoa que declara, em alto em bom som que a palavra dita pela primeira pessoa foi: "granada". Oi? E daí já começam as especulações, afinal se a pessoa escolheu supostamente falar granada, pode significar que ela é uma psicopata em potencial que está arquitentando explodir um prédio. Um verdadeiro circo amado de surdos e cegos.

É assim que acontece o tempo todo: com casal de namorados/noivos/amantes,esposos, com amigos, com colegas de trabalho. Que mania insuportável das pessoas não se entenderem e PIOR não fazerem o menor esforço para que isso aconteça.

Caso você escute algo que não lhe agradou, não é infinitamente mais fácil perguntar à pessoa se foi aquilo mesmo que ela disse? Custa muito descer do seu "pedestal de saber" para entender que as pessoas podem ter apenas dificuldade de se expressar e O MAIS IMPORTANTE, você pode ter dificuldade de entender, já que é muito mais fácil fechar-se nos seus próprios conceitos?

Hoje aconteceu comigo algo, no mínimo ridículo: um amigo ficou de chegar ao Santos Dumont às 11:30 e ficou marcado que eu fosse buscá-lo. Morta de sono (virei a noite acordada), não consegui acordar na hora  programa e só fui acordar quando o telefone tocou às 11:35. Com um discurso agressivo, ele disse que o avião tinha chegado às 10:40 (primeira vez na vida que vejo uma companhia aérea antecipar voo), que ele estava me esperando em pé a mais de 1 hora, que isso é infantilidade, babaquice e todas as ofensas que você pode imaginar. Com o telefone na mão, tentei explicar que tinha o cartão de embarque dele impresso em minhas mãos e que nele estava claro que a chegada ao Rio era às 11:30 e que como eram 11:35 eu estava pouco atrasada, mas que estava indo correndo para lá buscá-lo. Ele, preso às suas verdades absolutas, disse que não era mais para eu ir e que eu só me justificava e não me desculpava.

Pára o mundo! Se eu tenho um cartão confirmando a chegada do voo às 11:30 e ele me ligou às 11:35, até aquele momento eu estava 5 minutos atrasada, quando disse que estava saindo de casa naquele segundo para ir buscá-lo, eu estava deixando claro que não queria trazer transtorno, que houve um erro e eu estava agindo para consertá-lo. De nada adiantou, tentei ligar para seu celular umas 1.000 vezes e ele se fechou na sua verdade absoluta e não quis falar comigo, fez drama, como se eu tivesse mandado ele para Saravejo dizendo que o estava mandando para o Caribe.

Comunicar-se é difícil demais, mas com uma dose de delicadeza, educação e sensibilidade tudo acaba dando certo.

As tais desculpas que ele exige que eu peça, serão dadas, mas da boca para fora, apenas para evitar mais confusão. O que aconteceu hoje foi apenas um exemplo de que ele não me escuta e quem não me escuta, quem não me percebe, não merece consideração e nem esclarecimento.

Comunicar-se é complexo, mas dá para se comunicar sem mal entendido e sem ofensas. Muitas vezes na minha vida, por exemplo, já mandei uma pessoa à merda sem usar essa palavra. Não adianta debater com quem não está propenso a ouvir.

Tem uma frase (que não sei especificar de quem), que diz mais ou menos assim: "Quando vou, me jogo de cabeça, se recuo não volto mais".

Entendeu ou quer que eu desenhe?