Durante toda a minha infância (e isso já faz um tempo, digamos, considerável), meus pais me levavam quase que sempre à Quinta da Boa Vista, aqui no Rio de Janeiro.
Lembro-me como se fosse hoje a minha IMENSA alegria de ir passear lá. A Quinta da Boa Vista sempre foi um lugar mágico: imensos gramados verdes para correr (sendo alguns com inclinação suficiente para, inclusive, brincar de escorrega), pracinha com vários brinquedos, lagoa com uma pequena ilha que se chegava através de uma ponte, pequenas cavernas para brincar, museu, lugar para andar de bicicleta...
Nos finais de semana então era uma MARAVILHA: porque muitas pessoas levavam grandes pula-pulas e charretezinhas para alugarem. Sem falar dos vendedores das mais diversas bugingangas coloridas que deixavam as crianças eufóricas e os pais com vontade de pedir falência.
A Quinta da Boa Vista é um lugar ENORME e é comum que as famílias passem o dia todo lá. Alguns com toalhas estendidas no gramado fazendo pequenique e outras fazendo aqueles lanchinhos nem um pouco saudáveis, mas que alimentam a alma.
A Quinta da Boa Vista cheira à pipoca, milho verde cozido, cachorro-quente, maçã do amor, algodão doce... Exala aquele cheiro delicioso de planta, com árvores lindíssimas. Ouve-se risadas deliciosas de crianças. Você olha em volta e vê natureza, casais de namorados trocando beijinhos deitados na grama, jovens sentados lendo livros... Nesse caso vou ser bairrista sem medo de errar: preferia mil vezes ficar com o rosto azul de tanto comer algodão doce, subir em árvore, correr até parar de sentir as pernas, do que ir à Disney. (mas logo aviso: essa é minha opinião apenas). É um lugar lúdico...
Mas, apesar de toda essa minha descrição acima sobre a Quinta da Boa Vista, tem um lugar lá que, para mim, é o verdadeiro paraíso: o Zoológico da Quinta da Boa Vista!
Ok! Tudo o que citei acima eu amava fazer, mas nada me dava mais prazer do que ir ao zoológico.
Sempre fui apaixonada por animais e ir ao zoo é um prazer indescritível!
Que gostoso era ver as lindas araras voando nas gaiolas. Que fascínio me causava ver o jacaré completamente estático, as tartaruguinhas nadando, os macacos ágeis pulando e interagindo com os visitantes, torcer para o hipopótamo sair de dentro da água. Contemplar a pose majestosa das aves de rapina. Ouvir maravilhada o rugido do tigre. Ficar impressionada com o tamanho da girafa.
Só que...
Nesse último sábado, depois de muito tempo, fui ao zoológico (que saco essa mania humana de se tornar adulto e não alimentar a criança dentro de si) e me deparei com uma cena que não há adjetivo para descrevê-la...
Dizer que é triste é pouco! Dizer que é lamentável é pouco! Acho que o adjetivo que mais se aproxima do que senti ao entrar no zoológico é REVOLTA.
O zoológico estava cheio, claro. Afinal, estava um lindo dia de céu azul no Rio de Janeiro e a temperatura estava agradabilíssima, mas apesar de todo esse contexto, eu olhava em volta e sentia no peito uma grande tristeza.
O zoológico da Quinta da Boa Vista está acabado. Em todas as jaulas onde contém algum tanque de água, em função da necessidade do animal, não tem água e sim LIMO. Limo grosso, daqueles que dá a impressão que dá para andar em cima. Em toda a caminhada que dei não vi, em momento algum, nenhum funcionário prestes a dar informação, orientar os visitantes a não irritar ou dar comidas aos animais. Não vi sequer UM segurança. A grande maioria dos animais estão apáticos. Têm jaulas sem animais e apenas com mato que chega a quase 2 metros de altura. Em outras jaulas, os animais dividem sua moradia com lixo ou também plantas que não são podadas, a pelo menos, 6 meses.
A cena mais chocante para mim foi quando cheguei na jaula do hipopótamo. Ela é dividida em duas partes e em cada parte havia 1 hipopótamo. Vi que um deles estava deitado, enquanto o outro ficava o cheirando através da grade. Até aí nada demais, certo? Pois é, quando olhei o muro que divide as duas jaulas, eu simplesmente contei 23 urubus posados. Vem cá... Eu não sou veterinária, mas até onde eu sei o urubu fica na espreita esperando algum animal morrer para poder se alimentar. Pergunta se em algum momento eu vi algum veterinário dando uma ronda para verificar o bem estar dos animais...
Ao sair pelo portão principal, fui até à ponte construída para que os visitantes possam ver alguns animais de cima... Sabe o que eu vi nesse terreno enorme? Uma capivara e três veados. O resto era tudo LAMA... Lama úmida, que chegava a dar nojo, asco...
Saí de lá arrasada... Sei que o ser humano tem uma GRANDE tendência em não respeitar a natureza como um todo - vide a maneira como a natureza está reagindo diante desse "estupro" - mas sempre optei em acreditar que as pessoas um dia iriam se dar conta de que nós, seres humanos, somos APENAS UM dos elementos que compõe a natureza e não somos donos dele.
Juro que, por mais que eu tente, não consigo entender esses descomprometimento, tanto das autoridades, quanto da população...
Triste, revoltada e desolada com o que vi, apenas duas perguntas martelam a minha cabeça:
1 - "Para onde vai o dinheiro dos impostos que eu pago? Assim como tantos outros milhões?"
2 - "Será que são aqueles animais que devem ficar enjaulados?"
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