sábado, 3 de dezembro de 2011

Saber Perdoa-se!


Muito se fala em perdão e eu sou aquele tipo de pessoa que sei perdoar.

Não estou falando do perdão cristão no qual sou quase que obrigada a ter, senão sentarei ao lado de Lúcifer. Estou falando do perdão simples: aquele que me facilita viver e conviver. O perdão diário, que anda de mãos dadas com a consicência de que todos são passíveis de erros e que NINGUÉM é perfeito.

Claro que não perdôo tudo. Pera lá! Mas, admito que tenho a capacidade de esquecer o que me foi feito. Primeiro passo dias (até semanas) remoendo a tristeza, mas um belo dia PUF, o acontecimento deixa de ser importante. Acho que perdoar é isso: esquecer, deixar para lá.

Mas, tenho uma séria dificuldade: me perdoar!

Há algum tempo atrás, eu estava perdidamente apaixonada por um rapaz. Apaixonada mesmo. Aquele sentimento que nos faz revirar as vísceras e que também nos traz uma paz interna diferente.

Ele falava coisas para mim que eu, nem nos meus sonhos mais complexos, poderia imaginar que escutaria de um homem. Sentia-me especial diante disso.

Ele não era perfeito e, preciso pontuar, tinha um histórico de vida bem complicado. Só que ele tinha características fundamentais para mim: honesto, batalhador, inteligentíssimo, engraçado... Sem falar que o achava lindo, charmoso... Bastava olhar para seus lindos (porém tristes) olhos castanhos para se perder e não fazer a menor questão de se achar.

Nossos momentos eram intensos e reais e apesar de todos os traumas e dificuldades dele, estar ao lado dele era mais que delicioso, era pleno...

Um dia, por causa de um comentário meu bobo, sem malícia alguma, ele explodiu! Explodiu mesmo!

Ele esqueceu tudo de belo e bonito que dizia olhando nos meus olhos e vomitou acusações a meu respeito. Foi tudo tão surreal que eu não tive espaço e nem tempo para tentar argumentar. Cada palavra dele entrava em mim como um punhal. Silenciei-me.

No dia seguinte, logo após ele sair para o trabalho, eu, sem fazer nenhum alarde, juntei minhas coisas, escrevi uma carta para ele e fui embora... Antes de bater a porta, fiquei olhando silenciosamente seu apartamento... Desejando imensamente que, o que tinha acontecido na noite anterior, não passasse de um pesadelo e que eu iria acordar. Tolinha! Eu já estava acordada e muito bem disperta.

Não vou negar que após isso esperei que ele se desse conta do que havia me dito e que iria me procurar para desculpar-se, que lembraria do que vivemos e que isso iria pesar mais. Mas, lembrei-me do seu orgulho - e até prepotência - e dei-me conta de que ele, mesmo que consciente, não iria me procurar.

Nesse momento, eu já o havia perdoado, já havia juntado todas as peças do quebra-cabeça de sua vida. Percebi que ele não poderia se resumir naquele ataque de fúria e que ele era muito mais que isso e, por isso, tentei várias reaproximações.

Todas falhas, é claro! Ele não saiu do seu "pedestal" de saber. Continuou irredutível, frio, gélido, indiferente. O máximo que ouvi foi "você precisa de terapia intensiva" e mesmo assim eu relevei, perdoei, deixei para lá.

Óbvio que não faço mais tentativa nenhuma, perdoei e esqueci. Claro que com uma dose de lamentação, mas coloquei-o na minha pasta do passado.

Mesmo assim, eu continuava sentindo um incômodo. Tinha certeza que não era saudade, mágoa e nem amor ferido, o que haveria de ser então?

Foi aí que dei-me conta de que eu ainda NÃO ME PERDOEI por ter "permitido" que a situação chegasse aonde chegou. Em uma situação como essa é óbvio que em vários momentos me foi mostrado essa faceta dele, mas onde eu estava com a cabeça que não vi?


Eu estava apaixonada, ora bolas. Desde quando uma mulher apaixonada consegue ser lógica?

Percebi então que, mais importante do que perdoar o outro é saber perdoar-se. Perceber que somos humanos e não nascemos com manual.

Ok! Ainda não cheguei a esse patamar. Continuo, às vezes, me chamando de "estúpida" em silêncio.

No frigir dos ovos, não tenho que me perdoar, afinal não fiz nada de errado. Apenas me apaixonei por uma pessoa que não sentia o mesmo. Não sou a primeira mulher e nem serei a última a sentir isso na carne.

Sou imperfeita e that's all!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Run, Forrest, Run!!!


Que o mundo atualmente está uma correria só, não é novidade para mais ninguém! 
As pessoas andam na rua com passos acelerados e, caso você esteja distraída, andando normalmente numa calçada muito movimentada, tem sempre um "Humf!" propositalmente jogado no seu cangote, para logo em seguida a pessoa te ultrapassar com a maior cara feia do mundo, como se você tivesse acabado de cometer um ato pecaminoso.

Mal o sinal abre, SEMPRE tem um carro que tasca a mão na buzina. É tão rápido, que fico com a impressão de que o motorista fica com a mão a postos, olhando o sinal vermelho ficar verde para poder buzinar primeiro.

Tudo hoje em dia tem que ser muito rápido: dietas que fazem você emagrecer 15 kg em uma semana, problemas têm que ser resolvidos ontem senão o mundo acaba...

Mas, tem o lado bom dessa rapidez. Por exemplo, a rapidez da informação. Com o avanço da internet, temos notícias sobre o mundo todo em tempo real e eu acho isso muito bom, mas muito bom mesmo.

Mas... E quando essa rapidez também atinge as relações humanas?

Mulheres estão numa boate, homens vão assediá-las. Mais do que normal, ora bolas! O homem nem precisa gastar muita saliva, em questão de minutos o novo casal formado já está se atracando aos beijos e logo depois saindo de mãos dadas para ir para o Motel.

Pára tudo! Não sou puritana não!!! Mas será que dava para que isso acontecesse de forma mais lenta? Não lenta a ponto de você começar a achar que o cara é um banana, mas em um espaço de tempo que dê para avaliar se realmente vale à pena beijar esse homem e quem sabe até pintar um sexo depois... Sei lá. Acho isso muito estranho.

Você entra para uma faculdade, uma pós, uma academia ou um emprego novo. Dá de cara com uma pessoa na qual você teve simpatia imediata. Saem para tomar um chopp ou jantar, sei lá. Em dez minutos de conversa: "Você é de capricórnio? Nossa! Eu também!", "Sua mãe é de Aracaju? A minha também!". Pronto, já viraram amigos de infância, trocam confidências, se falam todos os dias.

Um casal começa a namorar! Que delícia é início de namoro, onde a gente descobre dia a dia ainda mais a pessoa, sente saudade e etc. Não se dão três meses, já estão morando juntos. Mais uns cinco meses em média e a mulher já engravida.

PÁRA!!! Que isso minha gente?

Existe uma diferença ENORME entre ser ousado(a), em não ter medo de se arriscar, em ser corajoso(a), em ser destemido(a) E ser rápido(a) em suas ações em relacionamentos.

Tudo bem que isso não é regra: um casal que se conhece em um dia e no outro se casa no civil pode dar super certo e daqui a quarenta anos estarem ainda andando com suas mãozinhas enrugadinhas dadas, mas pô! Vamos com calma! Por que essa pressa toda?

Enfim, toda estrada, em algum momento vai ter curva. Se você estiver com o pé no acelarador a 200 km/h, o carro que você investiu e acreditou que lhe traria alegria, segurança e conforto irá capotar e muito provavelmente irá te machucar seriamente, inclusive correndo o grande risco de machucar também pessoas que estejam à sua volta, incluindo quem está sentado no banco do carona.

Sei que todos temos pressa para sermos felizes, mas a felicidade não está ali paradinha na chegada de uma corrida de 100 metros rasos, como se fosse um troféu para quem chegar primeiro.

Não precisa correr! Basta apenas estar atento para perceber quando ela surgir como possibilidade.

Correr para ser feliz só lhe dará câimbra, falta de ar e cansaço. Mesmo que essa corrida seja para estar ao lado de alguém.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tudo é uma questão de bom senso!






Sempre apreciei sinceridade e transparência como características latentes em qualquer ser humano. É muito mais fácil lidar, por exemplo, com uma pessoa fofoqueira, interesseira, gananciosa, mas que não esconde isso de ninguém, do que lidar com uma pessoa que mais parece uma linda e leve fada lilás, com uma voz que quase lembra uma sinfonia de Bach, mas que verdadeiramente está esperando uma brechinha qualquer para lhe passar a perna, te difamar e lhe meter uma faca nas costas.

Gosto mesmo de pessoas autênticas, que não se escondem atrás de esteriótipos. Que elas tenham características que vão totalmente contra aos meus conceitos éticos e morais, mas pelo menos estão ali, mostrando o que são, sem dissimulação. Conhecer o "inimigo" é fundamental.

Só que existe um contra-ponto: eu ou você podemos afirmar com toda a certeza do mundo que SEMPRE fomos sinceros e transparentes? Eu me acho uma pessoa sincera sim, mas sem hipocrisia, nem sempre fui sincera em várias ocasiões.

Você tem uma amiga com uma tendência histérica, ela é um amor de pessoa, mas qualquer situação que saia do seu controle vira uma tragédia grega, com direito a prantos intermináveis, consultas extras na terapia, medicamentos tarja-preta e dias enfiada num quarto escuro ouvindo blues. Um belo dia, você está andando no centro da cidade e dá de cara com o noivo dela quase engolindo uma loira de salto agulha, em plena luz do dia. Claro que suas vísceras irão ferver tamanha a revolta, mas se essa sua amiga vier lhe perguntar se você viu seu noivo com alguma mulher você dirá verdade? Será sincera? Pois eu não! E não tenho vergonha de admitir isso. Não contarei não porque sou "em cima do muro", mas sim porque esse tipo de verdade dita só machuca. Um homem que se atraca com uma mulher tendo um compromisso com sua amiga em plena luz do dia, além de canalha, é covarde! Ele quer mesmo é ser visto e que alguém faça o papel que ele não teve culhões para fazer... E, vamos combinar: as chances de você contar o que viu, ele fazer papel de vítima, ele e sua amiga reatarem e você ficar com cara de tacho e ainda ser acusada de intrigueira são enormes.

Você trabalha em um escritório e nele também trabalha um rapaz irritantemente chato. Daqueles que fazem nascer em sua mente as ideias mais cruéis de tortura medieval. Vive fazendo piadinhas sem graça, implica, coloca apelidos, se mete nas conversas. Aquele tipo de pessoa que é capaz de tirar do sério até um monge budista, que acorda já na intenção de pertubar a vida de alguém. Você será transparente e fará cara feia cada vez que ele se aproximar fazendo algo insuportável? Você dirá diretamente para ele o quanto incomoda com suas atitudes? Eu não! É exatamente isso que ele quer! Quer azucrinar. Se eu fizer cara feia ou tecer algum comentário, estarei dando a ele o troféu que ele tenta ganhar todo dia. Visto sem pudores minha "máscara de samambaia" e olho para ele como se estivesse olhando um poste, por mais que por dentro eu quisesse estrangulá-lo.

Você tem um namorado que você ama e que te ama também: inteligente, lindo, culto, charmoso, carinhoso, mas como não existem "pacotes perfeitos", ele, em algumas situações, é severo em demasia, se irrita por pouca coisa e acha que está sempre com a razão. Começa uma discussão entre vocês e ele começa a esbravejar um monte de impropérios desnecessários, grita, anda de um lado para o outro e pode até te acusar de coisa que você não fez. Você será sincera e dirá que ele parece um ogro, que não tem mais idade para agir como uma criança birrenta? Eu não! Fico quieta! Em outra ocasião, com muita delicadeza, falarei sobre isso para que não pareça cobrança e nem crítica velada.  

Tudo é uma questão de bom senso.

Eu gosto da verdade, sempre gostei, mas o bom senso me mostra a cada dia que ela tem que servir como instrumento para agregar, para somar, para evoluir e não como uma espada enfiada na barriga de alguém.

Vejo muita gente por aí levantando bandeiras de "sinceridade" e "transparência", mas deixando no seu caminho inimizades, mal estar, clima pesado.

Não é todo mundo que está pronto para ouvir uma verdade e mesmo que essa pessoa aguente o tranco de ouvir uma, cabe ao nosso bom senso sabe detectar o momento de dizê-la e como dizê-la. Qualquer coisa diferente disso não é ser sincera e sim cruel.

Minha transparência, por exemplo, não é exercitada olhando de rabo de olho para uma pessoa insuportável cada vez que ela passa. Minha transparência é mostrada simplesmente evitando ao máximo conversar com essa pessoa e sendo apenas educada. Combinação perfeita: transparência + bom senso.

O que realmente importa nessa vida é que sejamos sinceros e transparentes com nós mesmos. 

Se o pessoal da empresa marca de tomar um chopp que você não está com o menor saco de ir, não vá. Seja educada, diga que lamenta e que está com dor de cabeça. Se uma amiga liga às 2h da manhã para chorar pitangas porque seu corte de cabelo ficou horrível e você tem uma reunião marcada às 7h, educadamente deixe claro que você não está disponível naquele momento... Isso é ser sincera consigo mesma, sem precisar dizer a verdade nua e crua.

Tudo é uma questão de bom senso.

Na vida, usamos máscaras sim. Usamos para nos proteger, usamos para não nos expôr, usamos para evitar brigas homéricas, usamos para conviver com pessoas chatas, mas que temos que conviver, usamos para não machucar quem a gente gosta, usamos para não alimentar a energia de "vampiros emocionais", mas tudo com bom senso.

A linha que separa o bom senso de falsidade e dissimulação é tênue. Não usa-se máscaras para tentar convencer os outros de algo que você não é. É apenas um instinto de sobrevivência, já que vivemos e PRECISAMOS conviver em sociedade.

A chamada para o seriado "Arquivo X" dizia: "A verdade está lá fora!".

Ótimo slogan publicitário, mas a verdade está dentro e, em muitos casos, é onde tem que ficar. Basta usar o bom senso.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Grito - Martha Medeiros


Ganhei de presente (e que presente!) o livro "Montanha Russa" da escritora e minha guru Martha Medeiros.

Por incrível que possa parecer, eu ainda não o tinha e quando eu o peguei em mãos o devorei sem dó e nem piedade.

É uma coletânea de crônicas dela que o leitor quando começa a ler, não consegue mais parar. É impossível passar inerte depois de ler algo escrito por Martha Medeiros.

Eu, sinceramente, acho que ela tem algo de mágico que liga sua mente às suas mãos na hora de escrever. Sua maneira de descrever, de forma tão esplêndida e profunda, o cotidiano, merece reverências.

Enfim, de todas as crônicas desse livro, escolhi uma para transcrever aqui nesse meu singelo blog.

Não tenho uma vírgula para acrescentar sobre essa crônica: "O Grito".

Apenas um alerta: preparem seus estômagos, porque Martha Medeiros irá socá-los...

O Grito 
Martha Medeiros
Livro "Montanha Russa"

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.

Não sei se gosto da minha namorada, diz um amigo para o outro.
Ele sabe.

Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.

Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade impõe-se, fala mais alto que nós, ela grita.

Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, que nos confude, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno.

A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.

Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Podemos amar e se relacionar com alguém sabendo que essa pessoa só está passando um tempo com você. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro.

Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!

Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.

Eu não sei por que sou assim.
Sabe.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Zoo e a Zona


Durante toda a minha infância (e isso já faz um tempo, digamos, considerável), meus pais me levavam quase que sempre à Quinta da Boa Vista, aqui no Rio de Janeiro.
Lembro-me como se fosse hoje a minha IMENSA alegria de ir passear lá. A Quinta da Boa Vista sempre foi um lugar mágico: imensos gramados verdes para correr (sendo alguns com inclinação suficiente para, inclusive, brincar de escorrega), pracinha com vários brinquedos, lagoa com uma pequena ilha que se chegava através de uma ponte, pequenas cavernas para brincar, museu, lugar para andar de bicicleta...

Nos finais de semana então era uma MARAVILHA: porque muitas pessoas levavam grandes pula-pulas e  charretezinhas para alugarem. Sem falar dos vendedores das mais diversas bugingangas coloridas que deixavam as crianças eufóricas e os pais com vontade de pedir falência.

A Quinta da Boa Vista é um lugar ENORME e é comum que as famílias passem o dia todo lá. Alguns com toalhas estendidas no gramado fazendo pequenique e outras fazendo aqueles lanchinhos nem um pouco saudáveis, mas que alimentam a alma.

A Quinta da Boa Vista cheira à pipoca, milho verde cozido, cachorro-quente, maçã do amor, algodão doce... Exala aquele cheiro delicioso de planta, com árvores lindíssimas. Ouve-se risadas deliciosas de crianças. Você olha em volta e vê natureza, casais de namorados trocando beijinhos deitados na grama, jovens sentados lendo livros... Nesse caso vou ser bairrista sem medo de errar: preferia mil vezes ficar com o rosto azul de tanto comer algodão doce, subir em árvore, correr até parar de sentir as pernas, do que ir à Disney. (mas logo aviso: essa é minha opinião apenas). É um lugar lúdico...

Mas, apesar de toda essa minha descrição acima sobre a Quinta da Boa Vista, tem um lugar lá que, para mim, é o verdadeiro paraíso: o Zoológico da Quinta da Boa Vista!

Ok! Tudo o que citei acima eu amava fazer, mas nada me dava mais prazer do que ir ao zoológico.

Sempre fui apaixonada por animais e ir ao zoo é um prazer indescritível!

Que gostoso era ver as lindas araras voando nas gaiolas. Que fascínio me causava ver o jacaré completamente estático, as tartaruguinhas nadando, os macacos ágeis pulando e interagindo com os visitantes, torcer para o hipopótamo sair de dentro da água. Contemplar a pose majestosa das aves de rapina. Ouvir maravilhada o rugido do tigre. Ficar impressionada com o tamanho da girafa.

Só que...

Nesse último sábado, depois de muito tempo, fui ao zoológico (que saco essa mania humana de se tornar adulto e não alimentar a criança dentro de si) e me deparei com uma cena que não há adjetivo para descrevê-la...

Dizer que é triste é pouco! Dizer que é lamentável é pouco! Acho que o adjetivo que mais se aproxima do que senti ao entrar no zoológico é REVOLTA.

O zoológico estava cheio, claro. Afinal, estava um lindo dia de céu azul no Rio de Janeiro e a temperatura estava agradabilíssima, mas apesar de todo esse contexto, eu olhava em volta e sentia no peito uma grande tristeza.

O zoológico da Quinta da Boa Vista está acabado. Em todas as jaulas onde contém algum tanque de água, em função da necessidade do animal, não tem água e sim LIMO. Limo grosso, daqueles que dá a impressão que dá para andar em cima. Em toda a caminhada que dei não vi, em momento algum, nenhum funcionário prestes a dar informação, orientar os visitantes a não irritar ou dar comidas aos animais. Não vi sequer UM segurança. A grande maioria dos animais estão apáticos. Têm jaulas sem animais e apenas com mato que chega a quase 2 metros de altura. Em outras jaulas, os animais dividem sua moradia com lixo ou também plantas que não são podadas, a pelo menos, 6 meses.

A cena mais chocante para mim foi quando cheguei na jaula do hipopótamo. Ela é dividida em duas partes e em cada parte havia 1 hipopótamo. Vi que um deles estava deitado, enquanto o outro ficava o cheirando através da grade. Até aí nada demais, certo? Pois é, quando olhei o muro que divide as duas jaulas, eu simplesmente contei 23 urubus posados. Vem cá... Eu não sou veterinária, mas até onde eu sei o urubu fica na espreita esperando algum animal morrer para poder se alimentar. Pergunta se em algum momento eu vi algum veterinário dando uma ronda para verificar o bem estar dos animais...

Ao sair pelo portão principal, fui até à ponte construída para que os visitantes possam ver alguns animais de cima... Sabe o que eu vi nesse terreno enorme? Uma capivara e três veados. O resto era tudo LAMA... Lama úmida, que chegava a dar nojo, asco...

Saí de lá arrasada... Sei que o ser humano tem uma GRANDE tendência em não respeitar a natureza como um todo - vide a maneira como a natureza está reagindo diante desse "estupro" - mas sempre optei em acreditar que as pessoas um dia iriam se dar conta de que nós, seres humanos, somos APENAS UM dos elementos que compõe a natureza e não somos donos dele.

Juro que, por mais que eu tente, não consigo entender esses descomprometimento, tanto das autoridades, quanto da população...

Triste, revoltada e desolada com o que vi, apenas duas perguntas martelam a minha cabeça:

1 - "Para onde vai o dinheiro dos impostos que eu pago? Assim como tantos outros milhões?"

2 - "Será que são aqueles animais que devem ficar enjaulados?"

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A difícil arte de se comunicar





Milhões e milhões de anos se passaram e o ser humano conseguiu criar uma complexa maneira de se comunicar. Enquanto os animais apenas entoam sons (que os cientistas já conseguiram descobrir que é uma maneira de se comunicar), nós seres humanos temos um vasto vocabulário que se adapta a qualquer tipo de situação.

Além das palavras, existem outras maneiras de se comunicar: através do olhar, gesto, movimento corporal... Enfim, comunicar-se é um campo rico e maravilhoso, BUT...

Por que é tão difícil se comunicar?

Pergunto isso porque me considero - sem auto-promoção - uma pessoa com uma excelente capacidade de me expressar, não tanto na escrita, admito, mas na fala sei que consigo dilacerar bem qualquer assunto. Integro-me em qualquer tipo de grupo social e sei me adaptar para entender e ser entendida e acho que não faço mais do que minha obrigação, afinal de contas, meus ancentrais não lutaram para criar esse lindo e majestoso ato de se comunicar.

Só que tem um grande problema: ok! Existem inúmeras pessoas que se expressam muito bem, mas em contrapartida não entendem ABSOLUTAMENTE NADA do que o outro está dizendo.

Quantas vezes na sua vida você já não se deparou com uma situação em que você teve CERTEZA de ter dito algo de forma clara e direta e o ouvinte, além de não ter entendido o que você falou, colocou palavras na sua boca que não foram ditas, distorce o que foi falado e ainda sai por aí pulando feito uma gazela arrotando verdades que, em momento algum, foram ditas.

Fofoca então é uma maravilha, um verdadeiro "telefone sem fio". A brincadeira começa com a pessoa falando a palavra "calçada", a outra passa a palavra "cantada", a outra passa "cartada", a outra "galopada" e assim vai até a última pessoa que declara, em alto em bom som que a palavra dita pela primeira pessoa foi: "granada". Oi? E daí já começam as especulações, afinal se a pessoa escolheu supostamente falar granada, pode significar que ela é uma psicopata em potencial que está arquitentando explodir um prédio. Um verdadeiro circo amado de surdos e cegos.

É assim que acontece o tempo todo: com casal de namorados/noivos/amantes,esposos, com amigos, com colegas de trabalho. Que mania insuportável das pessoas não se entenderem e PIOR não fazerem o menor esforço para que isso aconteça.

Caso você escute algo que não lhe agradou, não é infinitamente mais fácil perguntar à pessoa se foi aquilo mesmo que ela disse? Custa muito descer do seu "pedestal de saber" para entender que as pessoas podem ter apenas dificuldade de se expressar e O MAIS IMPORTANTE, você pode ter dificuldade de entender, já que é muito mais fácil fechar-se nos seus próprios conceitos?

Hoje aconteceu comigo algo, no mínimo ridículo: um amigo ficou de chegar ao Santos Dumont às 11:30 e ficou marcado que eu fosse buscá-lo. Morta de sono (virei a noite acordada), não consegui acordar na hora  programa e só fui acordar quando o telefone tocou às 11:35. Com um discurso agressivo, ele disse que o avião tinha chegado às 10:40 (primeira vez na vida que vejo uma companhia aérea antecipar voo), que ele estava me esperando em pé a mais de 1 hora, que isso é infantilidade, babaquice e todas as ofensas que você pode imaginar. Com o telefone na mão, tentei explicar que tinha o cartão de embarque dele impresso em minhas mãos e que nele estava claro que a chegada ao Rio era às 11:30 e que como eram 11:35 eu estava pouco atrasada, mas que estava indo correndo para lá buscá-lo. Ele, preso às suas verdades absolutas, disse que não era mais para eu ir e que eu só me justificava e não me desculpava.

Pára o mundo! Se eu tenho um cartão confirmando a chegada do voo às 11:30 e ele me ligou às 11:35, até aquele momento eu estava 5 minutos atrasada, quando disse que estava saindo de casa naquele segundo para ir buscá-lo, eu estava deixando claro que não queria trazer transtorno, que houve um erro e eu estava agindo para consertá-lo. De nada adiantou, tentei ligar para seu celular umas 1.000 vezes e ele se fechou na sua verdade absoluta e não quis falar comigo, fez drama, como se eu tivesse mandado ele para Saravejo dizendo que o estava mandando para o Caribe.

Comunicar-se é difícil demais, mas com uma dose de delicadeza, educação e sensibilidade tudo acaba dando certo.

As tais desculpas que ele exige que eu peça, serão dadas, mas da boca para fora, apenas para evitar mais confusão. O que aconteceu hoje foi apenas um exemplo de que ele não me escuta e quem não me escuta, quem não me percebe, não merece consideração e nem esclarecimento.

Comunicar-se é complexo, mas dá para se comunicar sem mal entendido e sem ofensas. Muitas vezes na minha vida, por exemplo, já mandei uma pessoa à merda sem usar essa palavra. Não adianta debater com quem não está propenso a ouvir.

Tem uma frase (que não sei especificar de quem), que diz mais ou menos assim: "Quando vou, me jogo de cabeça, se recuo não volto mais".

Entendeu ou quer que eu desenhe?

sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Meia Noite em Paris"


AVISO: Presença de Spoiler. Caso você, que está lendo esse humilde post, tenha interesse de assistir o filme "Meia noite em Paris" e ainda não assistiu, cuidado pois escreverei detalhes sobre esse filme.

Bom, para iniciar esse post, preciso antes de mais nada dizer que futuquei a internet toda atrás de uma imagem para pôr aqui e não achei nenhuma que ficasse a altura para representar esse filme, por isso pus uma foto do diretor Woody Allen.

Convivi a vida toda com pessoas que simplesmente veneravam o Woody Allen e eu admito que nunca entendi muito bem essa idolatria. Parte disso por puro pré-conceito da minha parte - sorry! Não sou perfeita - que não ia muito com a cara dele. Apesar da minha "guru", a escritora Martha Medeiros, ser apaixonada pela obra dele.

Enfim, no início dessa semana - por pura obra do destino - fui convidada para assistir esse filme no cinema. A minha primeira reação foi pensar: "Putz, Woody Allen?". Mas, deixe-me levar pelo convite, já que a pessoa que me convidou é muito inteligente e sensível e, portanto, não me levaria para uma "roubada". Além do mais, essa pessoa é muito especial para mim.

Como o próprio título já mostra, a história acontece em Paris. Só por isso já valeria ver o filme. Paris é uma cidade que nenhum adjetivo cabe, a não ser "mágica"... E acho que Woody Allen pensa como eu...

O filme conta a história de um roteirista de Hollywood, Gil, que vai a Paris com sua noiva insuportavelmente chata e lá se encontra com seus futuros sogros (tão chatos quanto a noiva). Em Paris, ele começa a questionar sua vida de roteirista, já que seu sonho era ser um escritor reconhecido. Percebe que sua vida financeira estável, em função de ser roteirista, deu a ele dinheiro, mas também frustração.

Durante o início do filme, ele tenta - de forma delicada - dizer para sua noiva sobre a sua vontade de se mudar para Paris, comprar um apartamento, andar na chuva das ruas parisienses, cita a sua vontade de ter vivido em Paris no início do século passado... Ela, extremamente irritante e egocêntrica, não dá atenção ao que ele diz. Ele, por sua vez, apenas lamenta seus sentimentos, mas mantem-se ali com ela, aturando suas atitudes mimadas. São noivos, mas percebe-se de forma nítida a solidão de Gil.

Em um dado momento do filme, quando Gil resolve caminhar sozinho nas ruas de Paris (e se perde), ele acaba parando num local para pensar numa maneira de voltar ao hotel. Sentado sozinho de madrugada em uma escada, ouve-se ao fundo o badalar de uma igreja, é "Meia noite em Paris"...

Surge um carro antigo na rua, que para à sua frente. De dentro do carro, algumas pessoas o convidam para entrar. Ele, meio atordoado e sem entender o que está acontecendo, resolve entrar (já que sua capacidade de raciocício estava enfraquecida, já que ele havia acabado de sair de uma degustação de vinhos).

Dentro do carro, ele percebe que houve uma "mágica" e que ele entrou em um túnel do tempo e que agora estava em Paris no início do século passado. No carro está o casal F. Scott Fitzgerald (um dos maiores escritores doséculo XX) e Zelda Fitzgerald, que o levam a um encontro com Hemingway.

Gil, nessa viagem no tempo, acaba encontrando com todos os maiores artistas da época: Picasso, Dali, entre outros, todos aqueles que ele tanto admira. O encontro dele com esses artistas faz com que ele lide com seus mais profundos desejos, até então varridos para debaixo do tapete. O diálogo de Gil com Hemingway dentro do carro sobre amor é um dos pontos mais lindos do filme, quando Hemingway descreve para ele o sentimento de estar ao lado da mulher amada e o faz perceber o quanto estava equivocado sobre isso.

O filme é recheado com diálogos lindos e profundos sobre a mente humana. Gil fez uma viagem no tempo, quando, na verdade, toda essa mágica fez com que ele realmente viajasse para as profundezas do seu ser: lidando com seus verdadeiros desejos, começando a admitir o quanto sua vida é medíocre e vazia, o quanto ele está preso a conceitos equivocados.

Não tenho palavras para descrever a maneira como Woody Allen escreveu esses diálogos tão profundos e sensíveis. A cada cena, eu ficava mais apaixonada por tudo o que estava acontecendo, meus olhos não desgrudavam da tela, cada diálogo era profundo e questionador, mas não de uma maneira "pseudo-intelectual", mas sim de forma sensível e encantadora.

Só assistindo o filme para entender a linda mensagem que Woody Allen quis dividir com seus espectadores. São tantos detalhes, é tanta coisa mostrada de forma poética, são tantas cenas intensas e paradoxalmente delicadas, que é preciso estar com o coração aberto para entendê-las e eu entendi. O problema de Gil não é porque ele não viveu na época que ele desejava viver e sim que essa viagem ao tempo mostrou que não é no passado que se encontra as verdades e sim dentro de nós mesmos, reformulando nossas ideias, reconstruindo nossos conceitos no presente

Claro que após essas experiênciastão intensas, Gil não se contenta mais em estar ao lado de uma mulher tão vazia, presa a expectativas de poder e glamour vazios e abre mão dessa relação supérflua para viver NO PRESENTE todas as sensações, sentimentos que ele tem o poder de viver.

Woody Allen não se prendeu a clichês, convidou seus espectadores a viajar junto com Gil nessa viagem interna e avassaladora, que o libertou de amarras emocionais durante tanto tempo.

Sem me avisar previamente, Woody Allen, na última cena do filme me fez chorar... Em muitos outros filmes que assisti, eu já esperava que ia chorar, mas nesse filme fui pega desprevinida e me emocionei de verdade. Enquanto lágrimas caiam dos meus olhos, meus lábios sorriam, tamana a intensidade da última cena do filme.

Cada cena é interligada, cada diálogo existe por um motivo nobre, nada é a toa.

Sem fórmulas prontas de romance, a última cena do filme retrata, de forma magistral, que a verdadeira felicidade não está em desejar viver em outras épocas e sim que ela está ali, a nossa frente, no nosso presente, esperando apenas ser aceita e vivida.

Em um simples momento de chuva, Woody Allen nos soca o estômago com a última cena, não consegui evitar a intensa emoção. Ele nos alfineta o tempo todo com a sutileza dos diálogos inteligentíssimos entre os personagens do filme, nos faz pensar, filosofar. Um filme profundo e, para mim, um divisor de águas na minha vida.

Woody Allen fala das relações humanas de forma tão profunda e, ao mesmo tempo, tão simples que não há possibilidade de você não se encantar. Com certeza esse filme, quando lançado em DVD, fará parte da minha coleção e, caso você tenha visto o filme de maneira despretensiosa, assista-o novamente: perceba cada nuance nos diálogos, perceba a linda edição de cenas que, em muitas vezes, falam mais que palavras.

Falar de relações humanas nunca é fácil, mas Woody Allen consegue e mordi a língua quando percebi o tempo que perdi em não ter dado a ele a chance de me mostrar antes a sua magnífica capacidade de falar de encontros, desencontros, amor, desapego...

Ah... A última cena do filme... O que mais quero é poder andar sob a chuva, sem medo de molhar a roupa, sem medo de borrar maquiagem, sem medo de estragar o penteado... Isso é dar chance ao amor: desprender-se de antigas amarras emocionais e permiti-se viver, sem medo do que vai dar. Não importa se estamos em Paris ou na Venezuela, não importa se iremos nos deparar com uma situação mágica que nos leve a um passado impossível de ser vivido, não importa se haverá um badalar de sinos. Não tenho poder sobre o passado e nem sobre o futuro, mas tenho o poder do AGORA e Woody Allen nos prova isso nesse filme.

Um verdadeiro poema em forma de imagens e diálogos. Um elixir que toca o coração.

Românticos assumidos ou não, assistam, deleitem-se com esse filme. Ele mostra que não é tão difícil dar chance ao amor e viver seus sonhos.

Obrigada Woody!