sábado, 9 de abril de 2011

Dor de cabeça 2 ponto 0



Sou de uma época bem diferente da de hoje (Oi? Tô saudosista hoje? Não, estou apenas concluindo). 

Enfim, quando eu era mais nova, os relacionamentos entre "meninos" e "meninas" eram mais ou menos assim: o pessoal se paquerava na escola, eram olhares trocados na hora do recreio ou em algum intervalo entre as aulas, todas as amiguinhas sabiam desse affair e davam dicas de como se aproximar, risadinhas nervosas nos grupinhos femininos surgiam quando o menino passava. O pretendente passava, o coração quase saía pela boca, o corpo todo se estremecia, a cara ficava branca que nem papel... Resumindo: estar apaixonada platônicamente é algo que a ciência deveria estudar, pela capacidade dela de nos fazer ficar com cara de idiotas..

Eram noites e noites pensando no pretendente, horas intermináveis com as amigas no telefone tentando decifrar algo do tipo: "Ele estava olhando para você sim! Não era para o duende roxo que estava dançando macarena atrás de você!" ou "Ó, eu achei tão bonitinho que o terceiro pêlo do braço esquerdo dele se arrepiou quando você passou..."

É fato: mulher adora devanear e sempre fica insegura com esse tipo de coisa e, pior, precisa das amigas para confirmar esses devaneios.

O que restava? Esperar ansiosamente para que acontecesse uma "festa americana", que ele fosse convidado e CLARO que ele fosse à festa! (para quem não sabe, "festa americana" nada mais era que uma festa no playground de alguém, onde meninas levavam doce ou salgado e meninos levavam refrigerante). 

Nessas festas tocavam músicas para dançar e já para o final tocava música lenta.

Aí começava a dor de cabeça: meninas coladas numa parede, meninos colados em outra. As meninas quase que infartando para o pretende vir convidá-la para dançar e os meninos super sem-graças torcendo para que algum deles puxasse o bonde de convidar logo uma menina...

E se o pretendente convidasse? Ui! Rostinho colado, dois passinhos para cá e para lá descordenados, um calor que subia pelo corpo e... Ah! O beijo...

Na segunda-feira seguinte, mais dores de cabeça: falo ou não falo com ele na escola? Falo com ele a lá "Diva nem aí" ou dou um "oi" simpático? Será que ele vai falar comigo? Será que ele gostou do meu beijo?

Se ele tiver gostado, a história já tinha um roteiro: ele ia convidar para ver um filme no cinema. Aquelas salas de cinemas antigas, enormes, deliciosas para namorar. Não importava se o filme era sobre o canto das baleias jubarte... O que realmente importava era outra coisa... Ai, ai!

E depois, mais dores de cabeça: a gente está ficando direto, será que estamos namorando? Será que ele vai me ligar?

Bom, muitas dessas dores de cabeça continuam atuando na rotina de relacionamentos amorosos e é uma delícia sentir isso, porque nos faz sentir vivos, só que agora surgiu uma coisa que serve como um peteleco num castelo de cartas: a tecnologia.

Hoje em dia se paquera via MSN com direitos aos tais "emoticons". Se ele entra ou não online, quanto tempo demora para te chamar (se é que chamará), se está só falando com você ou está com mais 5 janelas abertas conversando com outras. 

A técnica de fazer charme também mudou: se ele escreve algo para você no MSN é de regra que você demore, pelo menos, uns 3 minutos para responder (o que parece uma eternidade para quem está do outro lado da tela), tem que ser dadas respostas curtas e soltas para parecer uma mulher independente. Não pode ficar online por muito tempo porque dá a impressão de disponibilidade exagerada...

Que coisa mais chata! Quer dizer então que quando quero sorrir tenho que pôs :), quando eu quero dar uma piscadinha de olho tenho que pôr ;), quando eu solto uma gargalhada tenho que pôr "hahahaha"?

Onde foi parar toda a magia do corpo a corpo? Do sorrisinho de canto de boca? Do brilho no olhar? Das bochechas rosadas de vergonha?

E o Facebook e Orkut? Mó pai! É de praxe fuxicar essas mídias para saber de quem ele é amigo, se tem alguma baranga dando mole, quais comunidades ele faz parte, o que ele tem postado, o que andam escrevendo para ele, se ele mudou a foto do perfil. 

É de praxe também colocar frases com duplo sentido e rezar para que ele veja e vista a carapuça, postar músicas românticas para intrigá-lo, escrever que vai para a "night" para que ele pense que você não está esperando um contato... Criou-se então a Dor de Cabeça 2.0.

Se já não é fácil se relacionar, se já é difícil detectar algum sinal de interesse estando em frente à pessoa, imagina pelo computador?

Os defensores dessa tecnologia vão gritar "Mas tem web cam". Ah! Vão se catar! Desde quando é intrigante, prazeroso e gostoso paquerar alguém vendo-o teclar?

Eu tenho mídias sociais sim e gosto delas. Reencontrei amigos e amigas da escola que não via há tempos, recebo links interessantes, mas estou LONGE de achar bacana ser paquerada porque o cara me "cutucou" no Facebook, por que vi que ele anda visitando a minha página do Orkut ou por que ele me chamou no MSN. Isso dá uma margem de erro enorme: ele pode ter me "cutucado" no Facebook porque  simplesmente é fácil clicar, ele pode estar visitando a minha página no Orkut porque "me pegou" e não tinha mais nada de interessante para se ver na internet naquele momento, ele pode ter me chamado no MSN simplesmente porque me viu online e não tinha mais nenhuma menina para conversar. Tô falando... Dor de cabeça 2.0.

Se não estamos protegidos de sermos mal interpretados, mesmo olhando no olho da pessoa, imagina lendo uma frase no MSN, Orkut, Facebook e afins... Se já é difícil afirmar o que a pessoa sente, ela estando ali do seu lado dia a dia, imagina se dá para afirmar isso ao ler uma frase quase "cabalística"colocada na internet.

E outra coisa insuportável é o Twitter. A pessoa ao longo do dia relata, no máximo em 140 caracteres, o que está fazendo. 

Levando-se em consideração que muitas pessoas mentem o que estão fazendo só para parecem descoladas, cheias de amigos e compromissos... Tô fora!

O que era para unir as pessoas está afastando. Todo mundo meio robótico, distantes uns dos outros, com a cabeça cheia de minhocas interpretando o que foi escrito ou postado, tomando conta do que o outro anda fazendo pela internet...

Prefiro a minha dor de cabeça antiga. Ela, pelo menos, é mais real, paupável.

Ah! "Qué sabê"? Chega de postar, vou ali na sala ligar para meus amigos. Quem sabe rola um chopinho mais tarde? Hum...

Mas, se algum deles no meio da conversa e risadas, sacar um Blackberry para twitar, eu juro que rola um tapa, nem um pouquinho virtual..

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