quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tem que doer para se ter algo interessante!





Vivemos numa sociedade onde somos cobrados, incansavelmente, a sermos sempre felizes. Não sei se funciona assim na Europa, mas aqui nas Américas é fato.



Essa felicidade é cobrada e para consegui-la você tem duas opções: ou se entrega a um surto consumista, comprando, por exemplo, toda a nova geração de maquiagens com “nano-ativos” ou consegue um acordo para ter a despensa da sua casa sempre cheia de remédios tarja-preta. (esclareço que essas duas opções podem, inclusive, coexistir).

Admito que sou uma grande boba em potencial. Gosto de rir, de gargalhar... Há situações em que me vejo rindo de coisas que ninguém acha graça.

Mas, que fique bem claro, não acho graça no “Pânico na TV”, “Zorra Total”, “A Praça é nossa” ou “CQC”. Gosto e rio de tiradas bem sacadas do cotidiano, das coincidências que me deparo...

Tenho, inclusive, uma característica muito forte de me auto-sacanear, brinco com os meus desprazeres sim e sei que isso acaba fazendo um bem enorme para a cútis, mas antes de chegar a esse nível, eu me permito ficar triste.

Que fique claro que não estou falando da tristeza crônica, aquela que é capaz de infestar um ambiente ou me deixar inerte a qualquer tipo de atividade, mas sim a tristeza do autoconhecimento. A tristeza real que qualquer ser pensante precisa ter e sentir para poder, mais adiante, produzir.

Por que quando estamos tristes chega sempre alguém e diz: “não fica assim não!”. Tudo bem se o seu cachorro morreu, seu marido te traiu, se você foi demitida... Fica assim não...

Fico sim, respeito as minhas dores! Permito que o tempo e o ato de pensar e repensar a façam passar. Não me venham pedir um sorriso largo se eu estiver com algum tipo de luto! Façam-me o favor!

Só que estar triste é algo repugnante para a sociedade. As pessoas não sabem lidar com quem está triste. Ficam sem graças, até incomodadas, perdem as palavras, tentam caricatamente nos fazer rir. Por que é assim?

Eu estava pensando nas pessoas que admiro...

Na música: “The Smiths”, “Joy Division”, “Madredeus”, “Echo and the Bunnymen”, entre outros. Na literatura: Oscar Wilde (na veia!), José Saramago, Clarice Lispector... Nas artes em geral: as fotografias em P&B de Cartier Bresson, as obras de Oscar Niemeyer, os quadros de Van Gogh e Monet...

Todos, sem exceção, têm uma pitada de tristeza – e em alguns casos “pitada” é até um jeito carinhoso de minimizar. E vejo que a tristeza, quando bem aceita e trabalhada, é uma mola propulsora para libertar uma criatividade que toca o coração.

Escute, por exemplo, Janis Joplin cantando “Piece of my heart”, Joy Division tocando “Love will tear us apart”. Leia as letras das canções de Morrissey (vocalista do “The Smiths”)… A tristeza está ali, nua e crua, latente, real, vivida e externada.

Tudo o que é muito alegre, me incomoda. Não gosto dessa busca pelo “american way of life” com cerquinha branca em volta de um jardim de rosas, do casal em comerciais de TV sempre magros, lindos e com sorrisos cativantes e largos. Isso tudo me é monótono. Não consigo achar que dessa felicidade é capaz de surgir algo realmente interessante.

Perceba à sua volta: as grandes maiorias das pessoas ditas felizes não são, mas fingem que são para poderem se encaixar nesse estereótipo e assim serem aceitas nessa histeria coletiva.

Quem é feliz o tempo todo, acaba sendo uma pessoa rasa. Tente entrar em si mesmo com coragem e verá que você irá se deparar com tristezas, com fantasmas. Claro que com alegrias também, mas perceba que você só aprendeu, amadureceu, parou para pensar quando algo lhe doeu.

Felicidade plena não existe. O que existe são momentos felizes. Se você ficar o tempo todo pulando que nem um mico de circo, tamanha essa felicidade caricata, não terá capacidade de perceber e vivenciar quando uma real alegria acontecer e que, muitas vezes, vem de forma sutil.

Será que as milhões de pessoas que pulam atrás de trio-elétricos, suadas, com as mãos para cima, gritando “Uhú” cada vez que uma nova música se inicia (e diga-se de passagem, essas músicas são de uma poesia... Af!) estão felizes?  Tem lógica? Se aquilo ali, por exemplo, for felicidade, tô fora!

Permitam-se ficar tristes, assim como eu. Quem se permite ser o que é, de acordo com a experiência que está sendo vivida, consegue com mais facilidade juntar todas as peças do quebra-cabeça que compõe a mente. Vivencie todas as sensações sem medo.

Como já disse em um post anterior, Martha Medeiros é a minha “guru” e, por isso, finalizarei esse meu post com mais uma pérola de sabedoria dela:

“Há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir, de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela. Enfrentá-la sem atuações. Deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior.”



Nenhum comentário:

Postar um comentário