A homofobia é tão discutida, mas, infelizmente, só fica na teoria.
Outro dia desses, o programa CQC, no quadro "O povo quer saber", teve a presença do Deputado Jair Bolsonaro. Este - já conhecido há tempos pelo seu discurso racista, fascista e preconceituoso - deixou, mais uma vez claro, que é contra a homossexualismo e a favor da família.
Pera aí que eu quero entender: eu também sou a favor da família, mas desde quando família tem que ser composta por papai, mamãe, filhinho, filhinha, cachorrinho e etc. tal qual um comercial de margarina?
Isso tem lógica?
São várias justificativas que os preconceituosos usam para tentarem banir os homossexuais do mundo, mas a justificativa que mais vejo é a religiosa. Aos berros, os defensores "da moral e bons costumes" dizem que ser homossexual é um pecado digno de ir para o Inferno - bem na vibe da Divina Comédia de Dante - e que os homossexuais devem se redimir dos seus pecados. O que é isso? Malleus Maleficarum do século XXI? Vai rolar fogueiras em praças públicas?
Infelizmente, é da natureza do ser humano ser preconceituoso. Qualquer coisa é motivo para tacar pedras: se você for gordinho, se você usar óculos, se você for negro, se você tiver outra religião que não seja a da maioria... Se uma característica, então, estiver ligada à sexualidade, danou-se! Pra quê essa palhaçada toda?
Nesse assunto sou radical sim e assumo. Tenho verdadeiro horror a qualquer tipo de preconceito! Tenho mesmo! Para mim, os preconceituosos de qualquer espécie são todos um bando de palhaços e SEM GRAÇA NENHUMA!
Sobre homossexuais, por exemplo, já implico quando se falam sobre eles usando a expressão "opção sexual"!
Como assim "opção sexual"? Quer dizer então que ser homossexual é uma opção? Como se a pessoa estivesse numa padaria e escolhesse comer um bolinho de canela ao invés de um bolinho de banana?
Para mim não faz diferença se um homem apenas transa ou se apaixona por outro. Para mim não faz diferença se uma mulher apenas transa ou se apaixona por outra. Para mim não faz diferença se um homem e/ou mulher transam ou se apaixonam pelos dois sexos ao mesmo tempo.
Estão felizes? Ótimo! É apenas isso que REALMENTE importa para mim. Sei que sou uma romântica incurável, mas eu quero mais é ver todo mundo muito bem, vivendo as suas vidas, buscando aquilo que lhes dá prazer: seja no quesito profissional, emocional, sexual ou qualquer outra coisa.
Ok! Assunto debatido porque o Deputado Jair Bolsonaro fez o que sempre faz, ser estúpido, mas e? O que adianta ficar apenas discutindo sobre isso se homossexuais ainda são tratados como ET's?
Vale realmente a pena trazer à tona e dar espaço para pessoas preconceituosas? Há lógica em dar voz a elas?
Outro dia li um post da Clara Averbuck (mulher inteligentíssima e com um humor refinado) no blog dela: http://entretenimento.r7.com/blogs/clara-averbuck/page/2/ E achei bastante interessante o que ela postou, aproveitando esse furacão de opiniões sobre homossexualismo.
Nesse post, ela convida as pessoas a lerem o texto de Filipe Quintans. O texto é tão bem escrito - e que consegue ser leve apesar do assunto ser tão pesado - que irei publicá-lo aqui na íntegra:
"Já recebi ameaça de morte. Mais de uma, inclusive. Pela internet, pelo telefone, por carta, bilhete preso no para-brisa do carro. Como se percebe, nenhuma delas foi cumprida. Estou aqui, eles talvez também. Talvez fosse o mesmo cara, o que é bastante provável, mas duvido que ele tenha se dado ao trabalho. Jamais fui à polícia. Jamais consultei advogados. Jamais consegui medida judicial. Me preocupei em não fazer pública nenhuma das ameaças, todas recebidas num período de três anos.
Envolvia mulher, dinheiro, não tinha nada a ver com qualquer ato criminoso. Éramos, digamos, sócios num empreendimento, a coisa andava mal, a mulher não queria nada com meu sócio, and so it goes… Não sou Eddie Vedder mas ainda estou ‘alive‘.
E por que diabos eu comecei falando disso? Ah, sim. Queria escrever sobre homofobia contando uma história. Vocês sabem, e se não sabem tratem de saber, que há uma proposta de lei para criminalizar a homofobia (PLC 122). Eu concordo com algumas coisas da proposta, discordo de outras, mas em geral acredito que vá dar caldo transformar em crime uma prática tão odiosa quanto o preconceito aos gordinhos, negros, índios, albinos, corintianos etc.
Criado num lar homofóbico, ouvindo comentários homofóbicos e racistas numa base diária, eu tinha tudo para sair por aí, como muitos que conheço, “batendo em viado”. Não cheguei a tanto porque desde cedo fiz a conexão, por vezes demorada para alguns: não é eliminando o que eu não gosto que eu demonstro que não gosto. Simples. Um acontecimento, que revelo aqui pela primeira vez, foi o que mudou radicalmente tudo o que ouvi e fui doutrinado a pensar e que pautou a minha conduta quando o assunto é preconceito.
Corria o ano de 1995. Eu estava às turras com os estudos (quando não estive? me pergunto), só queria saber de guitarra, maconha e rock (não mudou muito, eu suponho); era visto no colégio como uma espécie de eminência parda: não era metaleiro, apesar do cabelo comprido e das roupas rastaquera; não era ‘bombado’ porque sempre odiei academias; não era bonito (continuo não sendo) então não era disputado pelas mulheres, apesar de tratar todas com educação e cavalheirismo peculiares à minha pessoa. Todo mundo me respeitava porque sabia que eu tinha sido expulso de três colégios, entre eles o Naval e um semi-internato barra pesada, e era o cara que “falava o que pensava” (ainda sou). Fiquei em paz por um longo tempo.
Lia muito, escrevia bastante, respondia aos professores quando contrariado ou quando achava que eles exageravam e sempre advogava em causas que julgava injustas. Nunca fui de botar galho dentro e, mesmo sabendo que iria apanhar, chamava para a porrada se assim julgasse necessário. Daí que, herói torto que era (péssimo aluno, mas gente boa), passei a ser uma espécie de porto seguro aos degredados: nerds, gordinhos e esquisitos de toda sorte sabiam que, perto de mim, eles estavam seguros.
Em 1996, entrou para o colégio um menino que chamarei daqui em diante de Mora. Inteligente, bonito e, caralho, gay assumido. Perdi as contas das vezes em que ele tinha que provar para os colegas que os pais não tinham nada contra, que ele podia ficar com o namorado, em casa, sem ser perturbado. Perdi a porra da conta. Como tocava violão e Mora cantava bem pra caralho, viramos uma dupla de recreio rapidinho. Fazíamos harmonias vocais, cantávamos coisas de boy bands, beatles, pop brasileiro dos anos 90. Trocávamos livros, vinis e passamos a andar juntos. Não tardou para que eu fosse tido como aquilo que era o pavor dos adolescentes suburbanos cariocas da década de 90 (e de tantas outras décadas): Filipe, o amigo do viado.
“Não tem vergonha não?”, me perguntou um dia um brucutu que hoje é guia turístico em Campos do Jordão. Não, não tenho. Tenho vergonha de tirar nota baixa, de não saber ler direito e de ser flamenguista na segunda-feira quando o Vasco dava um sacode no meu time. Dessas coisas eu tinha vergonha. E ainda tenho. De ser amigo – amigo mesmo – de um cara da minha idade, inteligente, talentoso para o canto e gay assumido, não.
A babaquice se prolongou por mais tempo que deveria até chegar ao ponto do insustentável. Mora chegou ao colégio um dia e me mostrou um bilhete deixado dentro de sua mochila no dia anterior. O bilhete dizia mais ou menos que se ele saísse do colégio sozinho (leia-se sem mim), morria. Disse-lhe que era besteira, que quem quer fazer essas coisas não manda recado (falo por experiência própria). Mais uma semana, mais um bilhete, e agora um rasgo na mochila do Mora, feito à estilete.
Começaram a sumir os cadernos dele, bem como seu material escolar, como estojo, régua, dicionário.
Vocês sabem, e se não sabem tratem logo de saber, que preconceituosos, de maneira geral, não param até que a vítima se veja louca. Dos pequenos atentados de colégio, passaram aos trotes telefônicos, às agressões físicas gratuitas em qualquer momento, dentro e fora de sala de aula, corredor polonês no banheiro masculino e demais. A coisa caminhou um pouco mais e eu vi meu amigo, com quem infelizmente não posso conversar hoje, definhando aos 17 anos de idade. Mora não comia, começou a tirar notas medíocres (para os padrões dele, normais para os meus padrões) e passou a beber e cheirar cocaína. Companheiro, me solidarizei em ambos os vícios e os dois quase acabaram comigo nos anos seguintes. Acabou com ele, certamente.
Mora se jogou da janela do próprio quarto e aterrisou no telhado de amianto da garagem do prédio. Quebrou as duas pernas, passou por nove cirurgias no rosto, ficou meses em coma. Morreu em dezembro de 98, sem ter voltado aos estudos, deformado e infeliz.
O leitor chega até esse último parágrafo e pensa que eu fiquei de sacanagem até aqui. Fiquei não.
Mora, apesar de um amigo querido, de quem sinto falta até hoje e, não minto, cuja lembrança me faz verter umas lágrimas que, macho que sou, não deixo rolar, cometeu um erro: tornou públicas as ameaças que sofreu. Deixou transparecer que aqueles imbecis estavam obtendo êxito, que realmente era só apertar que ele peidava. E ele peidou. Um deputado, mais conhecido (ou pelo menos mais lembrado) por ter vencido um reality show, recebeu, pela internet, 17 ameaças de morte recentemente. Fez públicas as ameaças, embora tenha tomado medidas legais e procurado a polícia. Burrice. Não se combate indigentes do pensamento jogando luz sobre eles e dizendo “vejam, que vergonha, o pastor Silas Malafaia, o Marcelo Dourado e as puta que os pariram, como são preconceituosos“.
Homofóbicos são como cogumelos: se alimentam de merda e devem viver no escuro, para sempre."
Depois dessa, sem mais!
Homofóbico? VAZA!
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