Essa figura que eu mesma fiz e coloquei acima, foi copiada da capa de um jornal impresso de hoje, aqui do Rio de Janeiro, chamado "Meia Hora". A capa do jornal não é exatamente essa, mas copiei a ideia, pois o jornal tratou de forma delicada - sendo ao mesmo tempo um soco no estômago - o massacre na escola ocorrido ontem aqui no Rio, no bairro de Realengo.
Procurei saber quem foi o responsável por essa capa - digna de prêmio - mas não o localizei. Caso desejem ver a capa original, o link é esse: http://one.meiahora.com/public/uploads/printcovers/08042011.pdf.
Caso não consigam vizualizar, basta ir no site "Meia Hora online": http://one.meiahora.com/
Ontem (dia 07/04) às 8h20 começava a rotina normal da Escola Municipal Tasso da Silveira, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os alunos e professores festejavam o aniversário de 40 anos da escola.
Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da mesma escola, com 24 anos, entra em uma das salas dizendo que irá dar uma palestra. Munido de dois revólveres, ele dá início ao maior massacre já ocorrido no Brasil. Doze anjos desprotegidos são brutalmente assassinados. A tragédia só não foi maior, porque quando o atirador se dirigia para o 3º andar da escola, para fazer mais vítimas, ele se deparou com o policial Márcio Alexandre Alves, terceiro sargento lotado no Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRV) que atirou em seu abdômen. Acuado, o atirador se suicida com um tiro na cabeça.
Doze anjos morreram precocemente, mas um anjo de farda conseguiu evitar mais mortes.
Nesse exato momento, enquanto tento escrever esse post, muitas mães e pais dessas crianças já enterram seus filhos ou estão prestes a enterrar. Existe dor maior do que a perda de um filho? Na minha opinião não, apesar de não ser mãe.
Não consigo tirar da cabeça a imagem da mãe ou pai na manhã de ontem, dando banho no filho, colocando o uniforme limpinho, cabelo penteado e se despedindo do filho(a) para ele ir à escola, para horas depois, esses mesmos pais estarem em prantos na porta da escola, desesperados, sem entender o que houve, esperando notícias para saber se o nome do filho(a) está na lista de mortos. É possível mensurar a dor que esses pais sentiram ao receberem a confirmação de que seu filho(a) está morto?
O meu intuito para construir esse blog foi para falar de "Lógica Feminina", toda a miscelânia que ocorre na cabeça de uma mulher, seus sentimentos e pensamentos, expôr assuntos, mas não poderia deixar passar em branco o que ocorreu ontem, apesar de eu não ter a pretensão de relatar notícias.
Mas, com o gancho da "lógica", fica a pergunta: Houve lógica no que ocorreu ontem?
Há lógica sim, não só para o ocorrido de ontem, mas para mais coisas...
Em um país:
- Onde se conseguir uma arma é a coisa mais fácil que existe;
- Onde o pai Alexandre Nardoni joga a sua filha Isabela da janela;
- Onde já ocorreram chacinas como as da Candelária e Vigário Geral;
- Onde cinco rapazes de classe média-alta de Brasília atearam fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos;
- Onde Suzane Von Hitchofen premedita e executa com o namorado e o irmão deste, o assassinato a sangue frio dos pais;
- Onde um pai alcoolizado dirige em alta velocidade fazendo seu carro cair no rio que corta o Canal do Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, e mata a filha Crystal de 1 ano e 2 meses afogada;
- Onde homossexuais são agredidos verbalmente e fisicamente;
- Onde o Deputado Jair Bolsonaro (em seu sexto mandato consecutivo) sempre que pode dispara ofensas e absurdos sobre negros e homossexuais, inclusive vangloriando a Ditadura Militar, época essa onde ocorreram tantas mortes e torturas.
Sem esquecer do atentado às Torres Gêmeas, os homens-bomba, da mutilação de clitóris nas mulheres na África, dos pedófilos, das 12,9 milhões de crianças no mundo que morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida por causa da fome, das 1 bilhão de pessoas que passam fome...
Ao ler tudo isso, pode-se achar que uma coisa não tem nada a ver com outra, mas na minha opinião tem sim. Os conceitos de humanidade e solidariedade estão a cada dia deixando de existir. Qualquer ato de bondade chega a gerar desconfiança. Eu e meu irmão fomos educados para sermos sensíveis à dor do outro e, hoje em dia, isso é sinônimo de ser babaca, otário.
"Eu lamento muito que têm crianças que morrem de fome no mundo. Eu lamento muito ao saber que mulheres são mutiladas na África. Eu lamento muito qualquer tipo de violência. Procuro nem assistir essas notícias, mas quando eu as vejo no Jornal Nacional, eu choro, apesar de logo depois eu estar assistindo a novela e apenas comentar o ocorrido em conversas de bar no dia seguinte, afinal o que mais importa é se uma ex-BBB vai ou não posar nua ou se a Gretchen está no seu 34º casamento" (ironia).
A maioria das pessoas se comovem, choram, ficam se perguntando o porquê de tanta violência, mas como num passe de mágica logo esquecem, afinal não foi nessas pessoas que a violência doeu.
A lógica é simples: o mundo está louco e têm muitas pessoas loucas. O que ocorreu ontem aqui no Rio nada mais é que a consequencia desses valores morais invertidos. Tudo, de certa forma, está interligado por um fio invisível de ganância, descomprometimento, arrogância.
Ainda bem que existem grupos (que ainda são minoria) que BERRAM contra o "estupro" à natureza, que BERRAM sobre a injustiça no mundo, que lutam, que colocam a mão na massa para construir um mundo melhor. Não adianta apenas decretar luto oficial, não adianta apenas fazer missas em homenagem aos mortos. É preciso ação, é preciso que haja um olhar de benevolência e real caridade na ROTINA de todos e não só apenas quando ocorre uma tragédia em grandes proporções.
Por exemplo, li por aí que Wellington Menezes de Oliveira (o assassino da tragédia de ontem), deixou uma carta com claros traços de psicose e esquizofrenia. Em 24 anos de vida ninguém percebeu isso nele? O que as pessoas têm a dizer sobre ele é que ele era apenas tímido e reservado? Se alguém tivesse percebido isso, essa tragédia poderia não ter acontecido?
É... Essa mania humana de olhar de maneira superficial o que acontece à volta...
Não posso dizer que estou de luto apenas pelo massacre de ontem na Escola Estadual Tasso da Silveira, estou de luto pelo Mundo e lamento diariamente por isso, pois sei que são atitudes simples que são capazes de transformar o mal em bem, o errado em certo.
Basta SEMPRE estar atento ao que acontece no nosso dia a dia, é não ter medo de ser carinhoso, é não achar que "uma andorinha só não faz verão", é abraçar, sorrir, beijar, ajudar, saber votar, ensinar sua prole a ter caráter, lutar, não ficar em silêncio diante de uma injustiça e...
Ter memória para que todo tipo de dor, violências, massacres, preconceitos de qualquer tipo, não caiam no esquecimento e por consequencia se tornem lugar-comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário